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O Mundo em Palavras

Histórias de verdade, amor e justiça.

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Vácuo Existêncial

Luis, 04.11.24

Muitas vezes, principalmente ao fim de semana sou absorvido por um vácuo existêncial. É como se não houvesse nada na vida, como se nada desse vontade de viver, nada entusiasma. Cinema, música, séries, jantar fora, sair à noite, ir a um parque, passear junto ao mar, nada entusiasma, a vida é um vazio. Acredito que tal se deva por o trabalho ser o centro da vida e quando não estamos a trabalhar, estamos sem nada, não temos existência e essa é a nossa vida, trabalho ou vácuo existêncial.

Encontrar hobbies é importante mas, no meu caso, ao fim de algum tempo essa nova atividade já não é suficiente para combater esse vácuo, ele volta, pode abandonar por algum tempo mas sempre volta, nada o destrói.

Quando não estou a trabalhar ele vem e apodera-se de mim, já fiz de tudo para o combater, desporto, sessões de terapia, leitura, etc. O vácuo existe, não se vai embora, cresce e é uma epidemia, toda a gente o sente.

Há uma teoria que diz que este vácuo existêncial tem proliferado porque o homem abandonou a Religião, no séc. XX a religião ocupava este vácuo, as pessoas iam à missa e tinham atividades ao fim de semana ligadas à igreja, isso agora não existe e as pessoas são invadidas pelo vácuo existêncial, que ocupou o seu lugar.

Esta teoria permite-nos concluir que a Fé ou a ligação a algo que acreditamos, como a ligação à igreja, tem uma capacidade maior de combater o vácuo existêncial e de dar sentido à nossa vida, do que todo o entretenimento que temos à disposição. As séries Netflix, as stories do Instagram, os posts do Facebook, os vídeos do Youtube, o Cinema, a música do spotify, os restaurantes da Moda, os jogos de Futebol, nada disso tem a capacidade que a ligação religiosa tem para nos ajudar a combaer o vácuo exisêncial (talvez o futebol tenha alguma capacidade por se tratar de uma paixão).

Os nossos avós iam à missa e o fim de semana que passavamos com eles eram de alegria, não sentiamos que existisse ali qualquer vácuo existêncial, eles sabiam quem eram, e sabiam como alegrar os outros, ao sábado socializava-se e ao domingo ia-se à missa e passava-se a tarde em família, após o grande almoço de domingo que reunia toda a família. Não havia vácuo existêncial. Agora não temos avós, as nossas famílias são pequenas e os nossos amigos estão em casa no seu próprio vácuo existêncial, pior, muitos dos nossos amigos são colegas de trabalho e, quase todos eles apesar de terem como melhores amigos colegas de trabalho, defendem que não se deve fazer amigos no trabalho porque nunca se sabe o dia de amanhã.

Para combater este vácuo existêncial, tenho tentado várias coisas, a que melhor resulta é ler, mas ler é uma atividade muito passiva e pouco social e, estar com pessoas é uma forma de combater o vácuo, o problema é que muitas dessas pessoas vivem no seu próprio vácuo o que leva a uma fraca qualidade das interações sociais fora do contexto de trabalho.

Vácuo existêncial é quando estamos num estádio de futebol a ver o clube do nosso coração e a meio da primeira parte só queremos é estar em casa, perto do nosso computador e telemóvel de trabalho.

Confesso que sempre quis saber muito do trabalho, sempre trabalhei com grande paixão e isso fez com que não conseguisse fazer trabalho que não gosto de fazer, levou-me também a isolar-me dos amigos em algumas fases da minha vida embora, os amigos também tenham contribuído para isso porque eles também sofreram do mesmo processo, o trabalho vai-nos afastando das coisas que gostamos à medida que se vai transformando no centro da nossa vida.

A única coisa que continua a resultar como forma de combater o vácuo existêncial são as viagens, ir para fora, sair de Portugal, ver pessoas diferentes e sítios novos, isso sim, continua a encher-me a alma e a fazer com que o vácuo existêncial desapareça.

Vou continuar a combater este vácuo, arranjar formas de o superar, a vida não pode ser só felicidade mas também não pode ser só trabalho e vácuo.

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